Objectivos: A decisão terapêutica das malformações arteriovenosas cerebrais (MAVs) é difícil e baseia-se na história natural da doença(HND) e na ponderação risco/benefício dos tratamentos. Os autores pretendem analisar a incidência de hemorragia a partir do diagnóstico e identificar factores associados a maior probabilidade de hemorragia em MAVs que foram vigiadas sem intervenção terapêutica.

Material e métodos: Estudo observacional retrospectivo dos doentes avaliados no Hospital Egas Moniz, entre Janeiro/2000 e Dezembro/2015, com diagnóstico de MAVs que foram sujeitas a vigilância sem intervenção terapêutica. Foram avaliadas variáveis demográficas (género, idade) e classificação segundo as escalas Spetzler-Martin (SM), SM suplementada (SM-S)e Spetzler-Ponce (SP). Foi avaliada a incidência de hemorragia no período de vigilância, a ocorrência de hemorragia prévia e a existência de aneurismas de fluxo. Análise estatística: Prism6v.6.0.

Resultados: Vigiados 26 doentes, com follow-up médio de 87,5 meses (6-456). A incidência de hemorragia foi 15,4% e a idade média foi 43,6 anos (4-73). 9 das MAV tinham sangrado previamente e 17 apresentaram-se sem hemorragia prévia. Não se verificou relação estatística entre a incidência de hemorragia e a hemorragia prévia (Qui2; p = 0,07), apesar de haver uma tendência neste sentido. Não se verificou relação estatística entre a classificação SM e SP e a incidência de hemorragia (Fisher;p = 0,49), nem com a presença de aneurismas de fluxo (Fisher; p = 0,36), ou com a idade (t-Student; p = 0,59).

Conclusões: Não se verificou relação entre os factores habitualmente usados para prever incidência de hemorragia e a ocorrência da mesma, sendo a presença de hemorragia prévia o factor que apresenta uma maior tendência para uma associação estatística. Assim, é necessário aprofundar o conhecimento da HND, por forma a melhor orientar a terapêutica.